A sombra é uma coisa maravilhosa. Que o diga o agricultor que trabalha o
dia inteiro debaixo do sol. Pode ser a sombra de um pequeno arbusto, debaixo do
qual Hagar colocou Ismael, então um adolescente de 14 anos (Gn 21.15). Ou a
sombra de uma enramada, debaixo da qual Jonas se colocou para proteger-se do
sol e do calor (Jn 4.5). Ou a sombra daquela gigantesca árvore do sonho de
Nabucodonosor, que cobria a terra e cuja altura chegava até o céu (Dn 4.10-12).
A Bíblia fala de uma sombra sobrenatural, que acompanhou o povo de
Israel do Egito a Canaã, por um espaço de 40 anos! Era uma coluna de nuvem que
andava e parava, de acordo com a marcha do povo eleito em direção à terra
prometida: “Nunca se apartou do povo a coluna de nuvem durante o dia e a coluna
de fogo durante a noite” (Êx 13.22). Essa nuvem lhes servia de toldo (Sl 105.39)
e abrandava-lhes o calor causticante do deserto (Is 25.5). Ela permaneceu sobre
mais de seiscentos mil israelitas (Nm 1.46) por mais de quatorze mil e
seiscentos dias.
Essa beneficência de Deus não se restringe exclusivamente ao povo de
Israel. Qualquer um pode se colocar debaixo de uma sombra mística. Enquanto
caminhavam em procissão para Jerusalém, os judeus cantavam: “O Senhor é quem te
guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. De dia não te molestará o sol,
nem de noite, a lua. O Senhor te guardará de todo mal, guardará a tua alma. O
Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.” (Sl
121.5-8.)
Mais amplas que a copa das árvores são as asas de Deus, figura pela qual
o crente reconhece a sombra do Onipotente e dela usufrui: “O que habita no
esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente, diz ao Senhor: meu
refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio” (Sl 91.1, 2).
O mais dramático lamento de Jesus tem algo a ver com a recusa do homem
de colocar-se sob suas asas: “Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes quis Eu
reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das
asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37.)
Para suportar e superaro calor das tentações, o calor das paixões, o
calor da cultura mundana, o calor das potestades do ar, o calor da injustiça, o
calor da oposição, o calor do cansaço, o calor da dor — é preciso falar com
Deus: “Guarda-me como a menina dos olhos, esconde-me à sombra das tuas asas,
dos perversos que me oprimem, inimigos que me assediam de morte” (Sl 17.8, 9).
Retirado de Pastorais para o Terceiro Milênio (Editora Ultimato,
2000)
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