Pastor ou magnata?
Causa
espécie a entrevista do pastor Silas Malafaia publicada na revista
“Veja” de 6 de junho de 2012. Ela deixa a impressão de que o pastor da
Assembleia de Deus Vitória em Cristo é menos pastor do que magnata. Ele
diz que tem uma boa casa em condomínio no bairro Recreio dos
Bandeirantes, no Rio de Janeiro, que “hoje deve valer uns 2,5 milhões de
reais”, apartamentos (no plural) e uma casa em Boca Raton, na Flórida,
“que comprei para pagar em 30 anos”, lugar onde os imóveis são os mais
caros dos Estados Unidos. “No ano passado” -- continua ele na entrevista
-- “ganhei de aniversário, de um parceiro, um carro Mercedez-Benz
blindado” e, em 2010, “comprei um jato Gulfstream, fabricado em 1986, e
paguei por ele 3 milhões de dólares”.
O repórter
fez questão de escrever (maliciosamente ou não): “De rolex de ouro no
pulso e cabelos implantados, o pastor recebeu “Veja” na sede de sua
igreja”. Durante a conversa, Malafaia entrou em detalhes: “[O implante]
custou 20 mil reais”, “ficou muito bom” e “fiz com o mesmo médico do Zé
Dirceu [o ex-ministro José Dirceu] e do Agripino [senador José Agripino
Maia]”.
Com referência ao seu trabalho religioso, o
pastor revela: “Estou construindo uma igreja linda, com
ar-condicionado, ao custo de 4 milhões de reais”; “[a Assembleia de Deus
Vitória em Cristo tem] 120 templos e eu quero chegar a 5 mil em dez
anos”; “[no ano passado] a igreja arrecadou 20 milhões de reais”; e
“pago entre 4 e 27 mil reais [aos pastores] dependendo da força, do
tempo dedicado [porque] a igreja não quer pastor maltrapilho”.
A
pergunta que surge é: Por que isso acontece com o homem que quer servir
a Deus e pregar as boas novas? Estaria ele contaminado por aquela sede
de poder e de influência que muitos de nós temos? Seria uma estratégia
para penetrar nas classes ricas? Para cuidar do rebanho e ganhar almas
para Cristo, o pastor precisa rodar em carro de luxo e ainda blindado?
Ele estaria sob ameaça de algum traficante, de algum inimigo, de algum
grupo gay?
O estilo de Silas Malafaia não é só dele. O pastor tem a companhia de alguns outros, no Brasil e no resto do mundo.
Quando
visitou o Brasil em março de 2012, como o principal preletor do 8º
Congresso Vida Nova, para falar na Universidade Presbiteriana Mackenzie e
na Faculdade e Mosteiro de São Bento -- ambos em São Paulo, SP -- e
para lançar mais um livro, o americano William Lane Craig ficou
impressionado com a emergência do país e com o rápido crescimento da
igreja evangélica brasileira. Porém fez algumas sérias críticas:
“Infelizmente o evangelicalismo brasileiro, muito comumente, é por
demais emotivo, centrado em personalidade e anti-intelecutal, o que
produz um grande número de desvios e faz com que a igreja penda para o
evangelho da prosperidade, a heterodoxia e, às vezes, até o sincretismo,
misturando espiritismo com cristianismo”. Para concluir, o visitante
declarou: “A igreja brasileira precisa, desesperadamente, do ensino da
sã doutrina e da apologética, se quiser concretizar seu potencial para o
Reino”.