domingo, 19 de setembro de 2010

Sessão da tarde


É, eu sei. Sou um sujeito estranho. Não sou perfeitinho e nem faço questão de sê-lo, ao menos de acordo com os padrões religiosos de hoje em dia – o que me causa várias dores de cabeça… Entre minhas estranhezas está meu gosto por filmes esquisitos. Não me entenda mal: gosto muito de comédias, ficção científica e suspense. Gosto de filmes que façam refletir. Mas gosto muito também de “tosqueira”. Filmes “trash” me fazem a cabeça. Mas o “trash”, para ser bom, tem que ser despretensioso, senão fica muito pedante. Gostei demais de “Toxic Avenger”, do “O Incrível Homem que Derreteu", e das versões turcas de “Superman” (com o herói mais subnutrido que já vi), “Star Trek” e “Star Wars”. Isso sem contar com o mestre no assunto, Ed Wood, que nos deixou a pérola “Plano 9 do Espaço Sideral”.

Mas não gosto de imposturas. Quentin Tarantino, por exemplo, é um “trash” involuntário porque é pedante, mas faz coisa ruim. “Avatar” também é “trash” involuntário com aquela conversinha ambientalista de fim de semana, enquanto espera o McLanche Feliz no shopping.

Gosto dos filmes genuinamente “trash”, porque não se levam a sério. Na sua “tosquice”, fazem mesmo é rir do orçamento diminuto, da falta de talento dos atores e do diretor, das situações improváveis e do fiapo de roteiro implausível. Mas os pseudo-trash, com sua tentativa de reinventar a roda (ou, no caso, o projetor dos irmãos Lumière), caem no ridículo da pretensão humana e do ego mal trabalhado.

Fico pensando se a igreja evangélica de hoje não estaria caminhando para ser um filme “trash” involuntário. O orçamento é grande (“sementes” que semeiam carnalidade e usura, campanhas missionárias meio nebulosas, o rendimento de CDs, DVDs e quinquilharias gospel), os estúdios, grandiosos (como a réplica do templo de Salomão), a trilha sonora prontinha (com os gritos histéricos e gemidos inexprimíveis erótico-espirituais). Mas os atores querem aparecer mais que o “autor” do roteiro. São estrelas demais, fazem exigências demais, marqueteiros demais, artistas de menos. Afinal, os crentes de hoje são muito religiosos, mas não se preocupam tanto em serem apenas irmãos, servos e discípulos. O roteiro, que é simples e está pronto há pelo menos 2 mil anos, ficou irreconhecível depois de ser tão mexido por mãos incapazes e de motivações inconfessáveis. A direção, que deveria estar a cargo do Espírito, foi tomada por gente de dura cerviz e de coração incircunciso.

O resultado disso tudo é o fracasso de bilheteria que estamos vendo. A plateia está interessada na história original, e não nessa “versão” comercial – e bota comercial nisso. Enfim, os proponentes da “Igreja Evangélica Brasileira – O Filme” esperam ganhar um Oscar. Vão ganhar (caso não haja retorno ao Senhor), no máximo, um Framboesa de Ouro.


• Rodrigo de Lima Ferreira, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário