domingo, 19 de setembro de 2010

Meditação da Semana


Assim como nós perdoamos


A MESMA coisa acontece quando entra em jogo o nosso perdão em relação aos outros, embora em parte seja bem diferente. É a mesma coisa porque, em ambos os casos, perdoar não é o mesmo que desculpar. Muitas pessoas aparentemente acham que é. Elas acham que se você pedir que perdoem alguém que as trapaceou ou ameaçou, na verdade, estarão fazendo de conta que não houve trapaça ou ameaça alguma. Nesse caso, não haveria nada a se perdoar. E continuam argumentando: “Mas você não está entendendo. O homem quebrou uma promessa das mais solenes”. É isso mesmo; é exatamente esse tipo de coisa que você está precisando aprender a perdoar. (Isso não quer dizer que você precisa necessariamente acreditar na próxima promessa dessa pessoa. Significa apenas que você deve empreender todos os esforços possíveis para matar qualquer ressentimento que possa carregar no coração – qualquer desejo de humilhar ou machucar o outro, ou de lhe dar o troco.) Essa é a grande diferença quando você pede o perdão de Deus. No nosso caso, é muito fácil aceitarmos desculpas; no dos outros, não conseguimos aceitá-las com tanta facilidade.


Retirado de Um Ano com C. S. Lewis (Editora Ultimato, 2005).

Sessão da tarde


É, eu sei. Sou um sujeito estranho. Não sou perfeitinho e nem faço questão de sê-lo, ao menos de acordo com os padrões religiosos de hoje em dia – o que me causa várias dores de cabeça… Entre minhas estranhezas está meu gosto por filmes esquisitos. Não me entenda mal: gosto muito de comédias, ficção científica e suspense. Gosto de filmes que façam refletir. Mas gosto muito também de “tosqueira”. Filmes “trash” me fazem a cabeça. Mas o “trash”, para ser bom, tem que ser despretensioso, senão fica muito pedante. Gostei demais de “Toxic Avenger”, do “O Incrível Homem que Derreteu", e das versões turcas de “Superman” (com o herói mais subnutrido que já vi), “Star Trek” e “Star Wars”. Isso sem contar com o mestre no assunto, Ed Wood, que nos deixou a pérola “Plano 9 do Espaço Sideral”.

Mas não gosto de imposturas. Quentin Tarantino, por exemplo, é um “trash” involuntário porque é pedante, mas faz coisa ruim. “Avatar” também é “trash” involuntário com aquela conversinha ambientalista de fim de semana, enquanto espera o McLanche Feliz no shopping.

Gosto dos filmes genuinamente “trash”, porque não se levam a sério. Na sua “tosquice”, fazem mesmo é rir do orçamento diminuto, da falta de talento dos atores e do diretor, das situações improváveis e do fiapo de roteiro implausível. Mas os pseudo-trash, com sua tentativa de reinventar a roda (ou, no caso, o projetor dos irmãos Lumière), caem no ridículo da pretensão humana e do ego mal trabalhado.

Fico pensando se a igreja evangélica de hoje não estaria caminhando para ser um filme “trash” involuntário. O orçamento é grande (“sementes” que semeiam carnalidade e usura, campanhas missionárias meio nebulosas, o rendimento de CDs, DVDs e quinquilharias gospel), os estúdios, grandiosos (como a réplica do templo de Salomão), a trilha sonora prontinha (com os gritos histéricos e gemidos inexprimíveis erótico-espirituais). Mas os atores querem aparecer mais que o “autor” do roteiro. São estrelas demais, fazem exigências demais, marqueteiros demais, artistas de menos. Afinal, os crentes de hoje são muito religiosos, mas não se preocupam tanto em serem apenas irmãos, servos e discípulos. O roteiro, que é simples e está pronto há pelo menos 2 mil anos, ficou irreconhecível depois de ser tão mexido por mãos incapazes e de motivações inconfessáveis. A direção, que deveria estar a cargo do Espírito, foi tomada por gente de dura cerviz e de coração incircunciso.

O resultado disso tudo é o fracasso de bilheteria que estamos vendo. A plateia está interessada na história original, e não nessa “versão” comercial – e bota comercial nisso. Enfim, os proponentes da “Igreja Evangélica Brasileira – O Filme” esperam ganhar um Oscar. Vão ganhar (caso não haja retorno ao Senhor), no máximo, um Framboesa de Ouro.


• Rodrigo de Lima Ferreira, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

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